quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Resenha: Filhos do Éden – Anjos da Morte



Essa é uma resenha que tenho muito orgulho, pois ela ganhou um concurso promovido pelo próprio autor. Veja Aqui.

Anjos da Morte é o segundo livro da trilogia Filhos do Éden, escrita pelo Eduardo Spohr. Muito mais soturno e intenso que o primeiro, o livro se divide em duas narrativas nos apresentando parte dos conflitos do século XX e dando continuidade cronológica a Herdeiros de Atlântica.

Depois que a colônia atlante Athea caiu e do querubim Denyel parar no rio Oceanus, a ishim Kaira, deixa de lado sua missão principal para tentar resgatá-lo e para isso conta com a ajuda do querubim Urakin, velho conhecido, e o novo membro do coro, Ismael, um hashmalim. A missão agora é encontrar Egnias, outra cidade do dizimado reino de Atlântida, para acessarem outro afluente do rio Oceanus.

Enquanto Denyel está perdido no místico rio, Spohr nos mostra o exilado no esquadrão Anjos da Morte, um grupo de alados formado por sete malakins a serviço do Arcanjo Miguel que cujo objetivo inicial é colher informações sobre as guerras travadas pelos humanos no século XX.

Do Dia D a Queda do Muro de Berlim. É nesse período que vemos o anjo da morte Denyel agir a mando do malakim Sólom, o Primeiro dos Sete. O acompanhamos nos capítulos mais sombrios do século XX, presenciamos o terror dos combates e a paranoia da Guerra Fria. Observamos o seu decair moral, a sua transgressão dos princípios de sua casta e entendemos assim o motivo que o levou a ser o pária que nos é apresentado no primeiro livro.

E destrinchar Denyel não é um mero capricho, muito menos o “viajar pelas guerras”, tudo está ligada ao plot principal e a medida que Kaira avança em sua busca por Egnias, as histórias vão se completando. Perguntas que ficaram em Herdeiros de Atlântida são respondidas e outras são criadas.

Spohr mistura lugares reais com fictícios para criar sua história. Passeia por cenários conhecidos, como as ruas de Paris e outros nem tão bem conhecidas como as ermas florestas do Camboja. Usa também o misticismo dos nazistas e a busca dos soviéticos por algo que lhes daria vantagem na Guerra Fria contra os EUA para desenvolver e fazer a ligação entre as duas narrativas.

Enquanto Kaira e seu coro enfrentam desafios para achar Egnias, entendemos melhor a natureza da arconte, assim como o papel do Primeiro Anjo na trama. Novos personagens são apresentados, não apenas anjos ou demônios, mas seres humanos que interagem com Denyel em sua jornada e essa proximidade faz com que o anjo exilado aprenda muito com a humanidade.

As questões filosóficas e morais que vem se mostrando uma marca do autor estão em Anjos da Morte, além de nos fazer pensar, passar uma mensagem, também as vezes delimita o que é ser um anjo e um ser humano. A mesma questão pode ter respostas conflitantes e estarem certas, depende do ponto de vista de qual ser a vislumbra.

O cuidado com as descrições das cenas e principalmente com os fatos históricos que ilustram o livro nos coloca exatamente no clima de uma Segunda Guerra ou de um conflito no Vietnã. O vocabulário, o cinema e principalmente as músicas também servem para colocar o leitor no clima da época.

A leitura flui em capítulos curtos e objetivos. E é essencial prestar atenção nos detalhes, isso é importante para reconhecer as conexões com o primeiro livro e seus personagens. O spohrverso vai crescendo, algumas castas angelicais vão sendo mais exploradas, além de algumas facetas da própria guerra civil celestial. Entendemos melhor também a guerra entre os atlantes e os enoquianos e como a magia era usada nos tempos de antes do dilúvio.

É uma grande aventura que termina, posso dizer, de uma forma curiosa no epílogo apresentado deixando ainda mais ansioso para ler o próximo e último livro da série.

A Casa da Rua 13

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A única casa abandonada da Rua 13 era preenchida pelo medo; insondáveis mortes ocorreram ali. Três forasteiros sem abrigo, desconhecedores da fama daquela residência, resolveram pernoitar na habitação. Já instalados, ouviram gemidos e vozes, e sentiram um forte arrepio. Pegaram a única lanterna e foram em direção ao som. Um velho lustre tombado e um esbarrão promoveram uma corrida desenfreada. Cada um, por conta do pânico, foi para um lado, e a lanterna, devido à azáfama, despedaçou-se. As vozes macabras continuavam a perturbá-los. Era uma noite densa; nuvens taciturnas cobriam o céu. Isolados e sem contato entre si, ouviram passos e, com pedaços de madeira que encontraram, armaram-se para duelar, e assim o fizeram.

Principiou o amanhecer. Dois no chão e um de pé; no entanto, o único inimigo que existia naquele lugar havia vencido. O medo, o espectro da morte, os consumira. Os primeiros raios de sol rasgaram o céu que se abriu ao astro rei. O forasteiro sobrevivente pôde observar que não havia opositor algum e, aos prantos, ajoelhado, desabafou: “Nós nos matamos, nós nos matamos”. Essa era a realidade; aquela casa havia feito mais três vítimas, duas de corpo e uma de alma. A casa da Rua 13 continuava com seu ritual singular.